Recado
"A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso. A palavra foi feita para dizer."
Gracialiano Ramos
Gripe que vem do chiqueirinho
Atchim! Atchim! Atchim! É a gripe suína. A danada tem os sintomas das irmãzinhas dela. A moleza toma conta do corpo. A temperatura explode. A tosse perde o controle. A cabeça dóiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Além dos estragos comuns, ela acrescenta outros. Vômito e diarreia entram na jogada. Muita gente não suporta tantos maus-tratos. Dá adeus à vida. O número de mortes se aproxima de 200. Valha-nos, Deus!
A gripe apareceu no México. Depois se espalhou mundo afora. Chegou aos Estados Unidos, à Espanha, a Israel, ao Canadá, à Nova Zelândia. A Organização Mundial da Saúde tremeu nas bases. Teme que o mal vire pandemia. O que é isso? Coisa boa não é. A palavra diz que a doença, pra lá de globalizada, não poupa ninguém. Pode espalhar-se pelos cinco continentes sem pedir visto ou apresentar passaporte.
O pai total
Pandemia é irmã de pânico. Ambas nasceram de Pã. O deus grego é metade homem, metade bode. Tem o corpo coberto de pelos. Na cabeça, exibe dois chifres. Os pés não são pés. São cascos. O meio-gente-meio-bicho habita os bosques, pertinho das fontes. Vive cercado de animais, todos loucos por ele. Tornou-se, por isso, a divindade protetora dos pastores e dos rebanhos.
Mas os humanos estremeciam só de lhe ouvir o nome. Com razão. Pã aparecia de repente. Perseguia moças e rapazes porque queria namorá-los à força. Apavorados, todos fugiam. Daí nasceu a palavra pânico. É um pavor enorrrrrrrrrrrme. Os pastores da Arcádia o adotaram como deus. Não deu outra: a fama dele se espalhou pelo mundo. Passou a significar o grande todo, a vida universal.
Com essa acepção, desembarcou na nossa língua. Pan virou prefixo. Sempre que aparece, dá idéia de totalidade. Os Jogos Pan-Americanos, por exemplo, agregam os habitantes das três Américas. O movimento pan-arábico junta os povos dos 23 países que falam árabe. Os defensores da pan-negritude buscam a união dos afrodescendentes, espalhados mundão afora. E pandemia? É epidemia sem fronteiras.
Tropeço
Jornais, rádios e tevês só falam no assunto. É gripe suína pra cá, gripe suína pra lá, gripe suína pracolá. Ufa! No domingo, acendeu-se a luz vermelha. A doença apareceu nos Estados Unidos. Depois, em outros países. Entre eles, Espanha, Israel e Nova Zelândia. Ops! A Organização Mundial da Saúde deu o alerta. A epidemia mexicana pode se transformar em pandemia. A GloboNews noticiou o alerta. Escreveu na telinha — "risco de pandemia mundial". Baita pleonasmo, não? Pandemia é mundial. O adjetivo sobra.
Coisa de porco
A gripe que assusta Europa, França e Bahia é variação da gripe suína. O H1N1, responsável pela infecção, mistura quatro vírus — um humano, um aviário e dois suínos. Os moradores do chiqueiro sofreram mutações. Antes só atacavam porcos. Agora avançam nos humanos. Vale, por isso, saber algo mais sobre eles. A palavra suíno vem do latim. Suinos pode ser o porco ou relativo ao porco. Por isso a carne de porco se chama suína. O criador de porcos, suinocultor. A criação, suinocultura.
Reação superlativa
Que coisa! A gripe suína prefere poupar idosos e crianças de até 3 anos. Ataca com fúria pessoas de 4 a 45 anos. Por quê? Ninguém sabe ao certo. Infectologistas dizem que o organismo de criaturas dessa faixa etária reage de forma exagerada. Há, pois, uma super-reação. Viu? O diagnóstico remete à reforma ortográfica. Uma das regras que regem o hífen diz que letras iguais se rejeiram. É o caso de contra-ataque, semi-intensivo e, claro, super-reação.
De cozinhas e costuras
E agora? Os amantes do lombinho assado, da costelinha frita, do torresmo crocante devem abandonar as delícias? Os entendidos dizem que não. Por duas razões. Uma: o vírus da gripe suína só se transmite de pessoa para pessoa. A outra: o vírus não resiste a temperatura superior a 75º. Os cautelosos, que temem comer carne, precisam prestar atenção ao cozimento. Assim, com z, da família de cozer, cozinha, cozinhar. Não podem fazer confusão com cosimento, filhote de coser. Coser pertence ao clã de costurar.
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