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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A Ordem dos Termos na Oração faz a Diferença



(1) Golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis), espécie que vive em águas profundas, encontrado no norte de Ilha Comprida, litoral sul de São Paulo. O animal foi removido já morto por biólogos do Projeto Boto-Cinza para análises.

(2) Parte do corpo tão ligada à sedução e à sexualidade, o formato das mamas sempre esteve submisso à ditadura da moda.

No texto escrito, é importante observar a ordem dos termos na frase. Se na linguagem falada a entonação cria a ênfase necessária ao entendimento, na linguagem escrita a situação é diferente. É preciso empregar os recursos de ênfase e clareza próprios da escrita.

No texto (1), uma legenda de foto, a construção “animal foi removido já morto por biólogos” convida à dupla interpretação. Por mais que o leitor deduza que o animal não foi morto pelos biólogos, o texto permite essa leitura, portanto é defeituoso. 

O que produz esse defeito é o fato de a expressão “por biólogos” vir depois de duas formas verbais, podendo estar ligada a qualquer uma delas (“removido por biólogos” ou “morto por biólogos”). A solução para o problema está na mudança de posição ou da expressão “por biólogos” ou de uma das formas verbais.

Se optássemos por aproximar “por biólogos” de “removido”, teríamos o seguinte: 

“animal foi removido por biólogos do Projeto Boto-Cinza já morto para análises”


ou algo parecido:

“animal foi removido para análises por biólogos do Projeto Boto-Cinza já morto”

O problema dessas duas construções é que ambas deixam o complemento mais curto (“já morto”) depois de um elemento muito longo (“removido para análises por biólogos do Projeto Boto-Cinza”), o que não favorece a clareza.


O melhor, portanto, seria antecipar a forma verbal “morto”, e modo que ficasse distante do agente da passiva (“por biólogos”). Assim:

(1) Golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis), espécie que vive em águas profundas, encontrado no norte de Ilha Comprida, litoral sul de São Paulo. Já morto, o animal foi removido por biólogos do Projeto Boto-Cinza para análises.

O outro trecho (2) apresenta um defeito comum: uma expressão de caráter predicativo aparece antes do sujeito ao qual se refere e faz referência não ao núcleo do sujeito, mas ao complemento dele.

Observe que a “parte do corpo tão ligada à sedução e à sexualidade” não é o formato das mamas, mas as mamas propriamente ditas. Assim, “mamas” deveria ser o núcleo do sujeito. Veja abaixo: 



(2) Parte do corpo tão ligada à sedução e à sexualidade, as mamas sempre tiveram seu formato submisso à ditadura da moda.


Por Thaís Nicoleti

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