Entre os vícios de linguagem mais recorrentes, e que por esse motivo merecem atenção redobrada no processo de elaboração do texto, está o emprego de clichês, também conhecidos como "chavões" ou "lugares-comuns". São termos ou expressões que, pela utilização excessiva e muitas vezes abusivas, apresentam-se bastante desgastados e com significado sedimentado pela repetição de ideias generalizantes ou estereotipadas.
Podemos apontar, como exemplo mais imediato, os provérbios ou ditos populares. São frases cunhadas na experiência que se tornaram emblema. Podem ser aplicadas às mais variadas situações do cotidiano de determinado grupo sociocultural, como "Quem vê cara não vê coração", "De cavalo dado não se olham os dentes", "Quanto maior a nau maior a tormenta" etc.
Evite estas expressões
Não se encontram expressões tão "batidas e repisadas" pelo emprego repetitivo somente na linguagem coloquial ou popular.
Se analisarmos com cuidado algumas citações de pensadores famosos, frequentemente utilizadas em diferentes tipos de textos, até naqueles considerados mais rebuscados, é possível verificar que muitas deixaram há tempos de ser "originais", servindo apenas de recurso para "florear" ou "preencher" o texto ou mesmo para demonstrar falsa erudição.
Temos, como exemplos, "Há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia" (Shakespeare, em sua obra Hamlet), "Só sei que nada sei" (Sócrates), "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena" (Fernando Pessoa), entre outras.
Certifique-se da autoria
Se você quiser mesmo fazer uma citação dessas, um cuidado: não erre a autoria.
É gafe imperdoável escrever, como fez um estudante pré-vestibular, "'O homem é o lobo do homem', como dizia Maquiavel". Quem disse a frase, na verdade, foi o também filósofo Thomas Hobes.
Além desse descuido, a citação encontrava-se fora de contexto, já que não era possível identificar claramente a relação estabelecida pelo autor entre a expressão citada e a temática do texto.
Consequentemente, em vez de erudição, o aluno acabou demonstrando falta de conhecimento sobre o tema; e "o tiro saiu pela culatra".
Clichês modernos
Outras expressões, apesar de nem tão antigas, já apareceram - e continuam aparecendo - de forma tão recorrente, sobretudo na mídia, que acabaram se tornando clichês.
Assim, se voltarmos a atenção para alguns artigos de jornais e revistas ou notícias veiculadas pelos telejornais, não será muito difícil encontrar frases "formulares" do tipo:
"Chega ao fim a novela da negociação do Jogador para o time europeu."
"Uma das mulheres mais belas de todos os tempos."
"O país é uma das maiores economias do mundo."
"O racismo é uma chaga social (...)"
"Fechar com chave de ouro"
"O homem foi encontrado em petição de miséria."
"Agora é preciso colocar a casa em ordem."
"Voltar à estaca zero"
"Amarga decepção"
"Calorosa recepção"
"Crítica construtiva"
"Será preciso correr atrás do prejuízo (...)"
"A atleta já está de passaporte carimbado para as Olimpíadas."
"Ele encerrou o torneio em grande estilo."
"Esta é mais uma obra faraônica".
Emprego inadequado ou abusivo
O emprego inadequado ou abusivo de tais expressões pode, portanto, comprometer tanto a construção de sentido do texto quanto a imagem do autor, uma vez que se revelam a ausência de originalidade e de domínio do repertório linguístico próprio ao tratamento do tema e, ainda, certa limitação no que se refere ao conhecimento de mundo do escritor.
É evidente que essas expressões, quando utilizadas de forma original e contextualizada, podem ser muito úteis no processo de elaboração do texto, mas para isso é necessário tornar-se um escritor proficiente, capaz de manipular de maneira eficiente sutilezas semântico-estilísticas, como a ironia e a metáfora.
Para atingir esse grau de competência, no entanto, as habilidades linguísticas devem ser desenvolvidas por meio da leitura e da interpretação de textos cada vez mais complexos, dos mais variados gêneros discursivos, e com uma prática contínua de atividades tanto orais quanto escritas. E exige do estudante dedicação e disciplina.
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