Ao contrário do que muitos pensam, a dissertação não é um texto artificial que se aprende apenas para cumprir com as exigências de vestibulares e outros concursos. Ela é um tipo textual muito presente no cotidiano de qualquer pessoa. Toda vez que analisamos um fato, conceituamos uma ideia, discutimos um assunto ou defendemos nossa opinião, estamos dissertando.
Para realizar tais ações, precisamos refletir sobre o tema em questão, selecionando informações relevantes, a partir de uma pesquisa em nosso acervo mental ou em fontes confiáveis diversas. As ideias selecionadas devem ser organizadas de um modo convincente, em uma estrutura lógica (tese, desenvolvimento, conclusão) e com uma linguagem clara, culta e objetiva. Afinal, dissertar é falar sério, é mostrar nosso jeito racional/ intelectual de interpretar certo assunto. Por isso há um vínculo obrigatório entre a realidade e o conteúdo da dissertação, na medida em que o leitor acredita que o autor desse texto esteja comprometido com a verdade.
A dissertação, que pode ser expositiva ou argumentativa, é o tipo textual mais solicitado em vestibulares porque permite à banca avaliar o candidato a partir de vários critérios, como:
- capacidade de compreensão do tema e da proposta;
- conhecimento da estrutura textual dissertativa;
- domínio da norma culta da língua (já que esta é a esperada para esse tipo de texto);
- nível cultural (necessário para garantir a informatividade do texto);
- habilidade argumentativa, ou seja, de usar as informações selecionadas com o propósito de validar um determinado ponto de vista, tornando o texto convincente. Este item é especialmente importante na dissertação argumentativa.
Observação: chamo a atenção para a necessidade de distinguir Redação de Dissertação. A Redação é apenas um dos diversos Gêneros Textuais que fazem parte do Tipo Dissertativo, assim como a Monografia, um Editorial Jornalístico, um Artigo de Opinião.
A principal diferença entre a dissertação expositiva e a argumentativa é facilmente deduzida: a primeira apenas expõe; a segunda argumenta e tenta persuadir o interlocutor. Cabem, porém, algumas considerações a mais sobre essa distinção:
DISSERTAÇÃO EXPOSITIVA
É a modalidade textual adequada para tratar de informações tidas como verdades inquestionáveis e tem o objetivo de informar o leitor sobre o máximo de aspectos relevantes ligados ao tema.
Um trabalho escolar sobre o "Acordo Ortográfico", por exemplo, será uma dissertação expositiva se tiver como objetivo expor várias informações sobre o acordo, como os aspectos legais, as principais mudanças ocorridas na língua, os países afetados por essa reforma. Nesse caso, o aluno fará uma pesquisa séria, em fontes seguras e reconhecidas, como livros e revistas científicas. Anotará os dados principais e escreverá um texto organizado numa sequência lógica, em linguagem objetiva, partilhando com o leitor o seu conhecimento sobre o tema.
Quando houver itens polêmicos nesse tipo de trabalho, caberá ao aluno mostrar os dois (ou mais) lados divergentes, evitando revelar seu posicionamento, uma vez que a proposta é expor o máximo de aspectos relevantes que encontrou.
DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA
Vai além da exposição organizada das informações. Nela o autor apresenta sua visão crítica do tema, ou seja, vê o assunto como algo polêmico, que gera diferentes versões sobre a "verdade" dos fatos.
Se o tema do trabalho sobre o Acordo Ortográfico fosse uma pergunta, como "O Acordo Ortográfico é essencial para o Brasil?", teríamos uma polêmica e, para desenvolvê-lo, precisaríamos escolher um lado, uma tese (sempre sujeita à discordância do leitor), fazendo uma dissertação argumentativa. Poderíamos usar os dados sobre o Acordo Ortográfico citados na dissertação expositiva (aspectos legais, as principais mudanças ocorridas na língua, os países afetados por essa reforma), mas agora enfatizando os pontos que ajudassem na defesa da nossa tese, descartando ou minimizando o peso das informações que não ajudassem nesse propósito.
Só existe argumentação porque há a possibilidade de discordância, assim há alguém para ser convencido, justificando o trabalho de uma argumentação para defender de modo convincente um determinado ponto de vista. Não há imparcialidade na dissertação argumentativa, assim o aluno que não se posiciona, que fica "em cima do muro", seja por insegurança ou por medo de desagradar a banca, comete um grave erro.
Nessa modalidade de dissertação, a maior parte do conteúdo deve destinar-se à apresentação de argumentos favoráveis à tese defendida e só é possível mostrar argumentos contrários se estes forem seguidos de contra-argumentos mais fortes, capazes de derrubar a oposição.
Vale lembrar que é possível usar trechos expositivos na dissertação argumentativa, mas é essencial que o aluno saiba qual é o propósito da sua redação: apenas expor fatos (dissertação expositiva) ou defender um ponto de vista (dissertação argumentativa), pois isso delimitará o que será ou não adequado àquele texto.
Um comentário:
Muito bom esse assunto!
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